APOSENTADOS QUE NÃO SE APOSENTAM

Aposentadoria Prolongada: Como a Reforma da Previdência Impacta os Aposentados que Continuam no Mercado de Trabalho

 

 

No Brasil, o fenômeno dos aposentados que permanecem no mercado de trabalho tem se intensificado. Este comportamento está intimamente relacionado a aspectos culturais, econômicos e sociais que moldam a realidade do trabalhador brasileiro. Enquanto em algumas culturas a aposentadoria é vista como um período de descanso e lazer, no Brasil, a continuidade no mercado de trabalho após a aposentadoria é uma prática mais comum do que se imagina, motivada por uma série de fatores que vão desde a necessidade financeira até o desejo de manter-se produtivo.

A Reforma da Previdência introduziu mudanças significativas que afetam diretamente essa realidade, alterando as condições e as motivações de quem já atingiu a aposentadoria, porém opta por seguir ativo profissionalmente. De acordo com uma pesquisa da Serasa e do Instituto Opinion Box, 64% dos aposentados consideram a aposentadoria insuficiente para cobrir seus gastos básicos. Além disso, 40% continuam trabalhando para pagar dívidas, enquanto 53% o fazem para complementar a renda. Muitos também recorreram a empréstimos para cobrir despesas essenciais, como alimentação e saúde (60%).

A pesquisa revelou que 37% dos aposentados não se planejaram financeiramente e 60% dos trabalhadores só começam a se organizar para a aposentadoria nos cinco anos anteriores ao pedido do benefício, outro fator relevante é que 56% dos aposentados continuam no mercado de trabalho porque querem se sentir mais produtivos, além da necessidade financeira.

Perfil dos Aposentados que Continuam Ativos:

14,7% da população brasileira continua trabalhando após se aposentar. Esse número é ainda maior entre idosos de 60 a 70 anos (42,3%)

52% dos aposentados ainda são os principais provedores da família

19% dos aposentados que trabalham atuam de maneira informal e 35% exercem atividades como autônomos ou profissionais liberais

A Reforma da Previdência (EC 103/2019) continua a impactar os trabalhadores que buscam aposentadoria. Em 2025, as principais regras incluem a Idade mínima progressiva, sendo para Mulheres aos 59 anos e homens aos 64, com exigência de tempo mínimo de contribuição de 30 anos para mulheres e 35 anos para homens, sistema de pontos onde o cálculo combina idade e tempo de contribuição. Atualmente, são exigidos 92 pontos para mulheres e 102 para homens.

Aposentadoria especial para trabalhadores expostos a agentes nocivos, a pontuação mínima é de 66 pontos (alto risco), 76 pontos (médio risco) e 86 pontos (baixo risco) e a regra do pedágio, quem estava a dois anos da aposentadoria em 2019, é necessário cumprir 50% a mais do tempo que faltava.

Essas mudanças refletem um esforço para garantir a sustentabilidade da Previdência Social, mas também impõem desafios significativos tanto para os trabalhadores quanto para o governo.

Mesmo após a aposentadoria, muitos trabalhadores seguem ativos, mas enfrentam restrições e obrigações, como:

Obrigatoriedade de contribuição previdenciária: Aposentados que continuam trabalhando precisam contribuir para o INSS, mas isso não aumenta seu benefício;

Perda de benefícios previdenciários: Aposentados que continuam no mercado de trabalho não têm direito ao auxílio-doença nem ao seguro-desemprego;

Limitações na aposentadoria especial: Quem se aposentou por condições especiais e volta a trabalhar em ambiente de risco pode perder o benefício;

Acúmulo de benefícios: Algumas combinações de aposentadoria e pensão são permitidas, mas com restrições.

 

Essas regras visam regular a situação dos aposentados que continuam trabalhando, buscando equilibrar os direitos previdenciários com a sustentabilidade do sistema. Para muitos aposentados, a decisão de permanecer no mercado de trabalho está ligada à necessidade de complementar a aposentadoria. Em um cenário marcado pelo aumento do custo de vida, o valor da aposentadoria paga pelo INSS frequentemente não é suficiente para cobrir as despesas essenciais.

A falta de planejamento previdenciário por uma parcela significativa da população, aliada à insuficiência do valor dos benefícios, leva muitos aposentados a continuar ativos profissionalmente. Embora o acúmulo de contribuições para a Previdência Social não resulte em um aumento imediato nos benefícios já concedidos, essa continuidade no trabalho se configura como uma estratégia para garantir maior segurança financeira e manter uma qualidade de vida digna.

Atualmente, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) não disponibilizou dados atualizados sobre o número de aposentados que continuam trabalhando em 2025, todavia, informações anteriores fornecem insights sobre a participação de aposentados no mercado de trabalho, a participação de aposentadorias e pensões na renda: Em 2023, a parcela de rendimentos proveniente de aposentadorias e pensões variava entre as regiões do Brasil, representando 21,4% no Nordeste e 13,3% no Norte. Estima-se que, para população idosa em 2025, o Brasil terá cerca de 30 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, colocando o país na sexta posição mundial em termos de população idosa.

 

Conclusão

O âmbito da Previdência Social no Brasil em 2025 demostra que a previdência continua mudando para acompanhar a população, e os aposentados que optam por continuar no mercado de trabalho devem estar atentos às novas normativas. A exigência de contribuição ao INSS, as restrições ao acúmulo de benefícios e a perda de direitos como o seguro-desemprego e o auxílio-doença representam impasses significativos para essa parcela da população. Com o crescimento da população idosa na sociedade e o aumento do déficit previdenciário, é provável que novas reformas sejam implementadas, o que torna ainda mais crucial o desenvolvimento de um planejamento financeiro robusto. Esse planejamento é essencial para assegurar a estabilidade e a segurança financeira dos aposentados no futuro. Recomenda-se continuar acompanhando as pesquisas e publicações do IBGE, que periodicamente atualiza dados importantes sobre o comportamento dos aposentados no mercado de trabalho, especialmente aqueles que optam por continuar ativos mesmo após a aposentadoria.

 

Walbert Ducanges

Luisa Hellen Pianco

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